Paulo Rk

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Contemplação da mente

domingo, 5 de julho de 2015

Eu tinha medo de ver Jesus Cristo na cruz, hoje não tenho mais!



Lembro como se fosse ontem, tinha pouco mais de dezoito anos recém liberado das obrigações militares, e tinha saído para procurar emprego.
Sai bem cedinho de casa, com um monte de anúncio de jornais colados num caderno pequeno, e uma pasta de elástico cheia de currículos impressos numa Lan House, pois na época nem tinha internet em casa, apesar de ter um computador bem velhinho e sem impressora.
Andei como um condenado das 8 da manhã até às 15 horas e nem tinha almoçado, só tinha comido dois cachorros quentes e um suco artificial de gosto duvidoso, pra variar horrível, os sucos artificiais que costumo fazer em casa era bem melhores do que aquela agua suja, mas como dizem, na fome e na sede quaisquer “iguarias” que comemos na rua se torna num banquete!
Enfim eram pouco mais que 15 horas e resolvi entrar numa igreja para descansar e “falar” comigo mesmo, o que não sabia é que tinha um pessoal realizando uma cerimônia de sétimo dia, acho que era isso, então assim que entrei me vi num lugar triste, cheio de pessoas chorando.
Só que naquela época nem sabia o que era aquilo, e fiquei desesperado, tão pouco sabia que a cerimônia não era para qualquer pessoa participar, pessoas sem nenhum grau de parentesco ou amizade com o falecido.
Imagine que eu entrei com aquela cara de cansado só para descansar as pernas e ter um pouco de paz comigo mesmo, quando todo mundo olharam em minha direção, com aquela expressão de curiosidade e espanto, quem será essa pessoa desesperada?
Ao mesmo tempo em que me fazia à pergunta; por que tanta gente reunida, todas tristes a chorar, olhando na direção de um homem com expressão sofrida, crucificado e com uma coroa de espinhos e com suas mãos e pés pregados com prego na cruz?
E mais curioso fiquei quando todos que estavam no local, mirava seus olhares a chorar no homem da cruz no mesmo tempo que  olhavam em minha direção com ar de espanto e curiosidade.
Foi um choque para mim naquela época, que nem sabia direito o que era religião, que tipo de cerimônia era aquela e se quer sabia quem foi Jesus cristo e como e porque, ele tinha sido crucificado!
Só sei que fiquei tão sem graça, que olhei para o crucifixo, fiquei triste e saí correndo, todos naquela igreja devem ter estranhado o meu comportamento, pois percebi um senhor correndo em minha direção.
Mal sabendo eles que eu fiquei aterrorizado com todo aquele sofrimento, tanta gente chorando por conta da visão de um homem crucificado numa cruz!
Obviamente que hoje depois de adulto dou boas gargalhadas com toda a minha ignorância de quando mais novos, porque somos ignorantes de pedra e nos assustamos com tudo que vemos no mundo, por não termos os devidos conhecimentos.
Nem sei se depois deste ocorrido e de forma inconsciente eu tenha receio de ver a imagem de cristo ou passe mal diante dele, pois conforme ele mesmo e o Buda e entre muitos outros seres de luz, que vieram nos ensinar uma grande lição mencionaram; ‘ninguém veio ao mundo para sofrer’!
Passado se uns tempos do “choque”, eu pesquisei sobre Jesus Cristo ainda na minha juventude e a sua forma hedionda de como foi morto, confesso ter me causado repulsas com a minha própria espécie.
Hoje não sinto mais mal em ver a cruz, pois sei que aquela imagem representa a ignorância da própria humanidade, mas não Jesus Cristo, e ainda tem gente em pleno século XXI que diz que ele morreu pelos nossos pecados e continuam a praticar coisas erradas com o seu próximo, como se a morte de “alguém” pudesse nos livrar das nossas próprias maldades e ignorâncias interiores.
Eu me tornei budista, pratico o budismo pela coerência dos  ensinamentos do Buda, que diz que somos todos responsáveis pelas nossas atitudes e pagamos por eles, ninguém pode pagar pelos nossos próprios erros cometidos, e segundo o budismo, não existe pecados, apenas erros com as quais aprendemos com eles,  nos tornando em pessoas melhores neste mundo!
Um adendo, nada no budismo é considerado pecado, consideramos todas as experiências boas ou ruins como um grande aprendizado, mas de todas as coisas erradas que o budismo abomina é sem dúvida, tirar a vida de alguém ou qualquer outro ser vivo que não da nossa mesma espécie.
Tirar a vida de outro ser na concepção budista é considerado um pecado e o pior deles, segundo o meu entendimento, quanto todo ao resto, uma grande lição para aprimorarmos as nossas condições nesta vida.
E a propósito, prefiro ver a imagem do Buda na postura  meditativa de flor de lótus pois ela nos lembra o estado que temos que atingir neste mundo, o estado de paz de espírito para contemplar o mundo e o universo ao nosso redor do que ver a nossa mesma imagem a sofrer numa cruz!
Paulo RK

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