Quando era mais novo sofria
bullying na escola por ser “diferente”, na verdade eu era delicado para os
padrões brasileiros da imagem ou de como “deveria” comportar um menino dentro da 'realidade brasileira'.
Eu era o contrário, nunca
falei palavrões, nunca ficava manipulando ou ‘coçando’ o saco em público, nunca
fazia comentários vulgares sobre as garotas, não cuspia no chão, defendia os
colegas mais fracos, mesmo tendo que arcar com as perseguições implacáveis dos
“meninos machões” que já zoavam comigo e não fazia educação física quando tinha
futebol, porque não gostava de futebol, não gosto até hoje.
Então os “meninos” da escola
colocavam apelidos maldosos em mim, me chamavam de frutinha, e pra acabar
comigo mesmo não sabia me defender, ia chorando para o banheiro de onde era
‘resgatado’ pela minha mãe, para no dia seguindo os malévolos meninos ficavam
me chamando de ‘filhinho da mamãe’.
Mesmo em casa quando minha
mãe me perguntava o que estava acontecendo eu não tinha coragem de falar para
ela, porque eu sou o filho homem caçula e ‘cobiçado’ dentre mais três filhas
mulheres, sendo o ‘bendito fruto entre as mulheres’ que meus pais tinham tanto
orgulho, por eu ter nascido ‘macho’, e eu pensava que tais difamações dos
‘coleguinhas’ da escola, ia deixar ambos decepcionados comigo.
Por um bom tempo a missão de
resgate da minha mãe foi uma constante, até que decidi não ir mais a escola,
estava de saco cheio com toda aquela perseguição e decidi não estudar mais,
para o desespero de minha mãe e pai.
Minha mãe chorava de
desespero comigo perguntando por que, por que e por que?
Quando de repente de tanto
ouvir ‘por quês’ decidi contar a ela o que estava acontecendo, ela não disse
nada, emudeceu, me abraçou e falou que me amava porque eu era o filho homem que
ela e meu pai tanto desejaram e que nada ou ninguém poderia mudar a minha
natureza de homem, porque nasci menino e quando crescer serei um homem de
grande valor, independendo das opções que venha a escolher no futuro, claro que
minha mãe não falou nessas palavras, pois ela não teve estudo como eu tive, mas
foi o que entendi da sua mais profunda sabedoria de mãe.
Meu pai não era de falar
muito, era do tipo calado, mas sofria tanto quanto minha mãe e do jeito dele,
acho que minha mãe comentou sobre o ocorrido e ele muito frio, sem demonstrar
quaisquer emoções em seu rosto pálido, só disse que eu sou homem porque nasci
homem e sou homem por definição e nada iria mudar a minha natureza.
Tais palavras foram o
suficiente para eu voltar à escola e de cabeça erguida, não ‘esquentei’ mais
com ‘zoeiras’ dos colegas e tão cedo eles perceberam que não teriam mais graça
mexer com quem não lhe dava relevância alguma, buscando uma ‘nova vítima’!
Eu cresci fisicamente e
mentalmente, e hoje agradeço a abençoada educação que tive dos meus pais, pois
eles não imputaram em mim os ‘antivalores’ do preconceito, e se hoje me
relaciono com todos de boa, é porque não julgo ninguém pelas aparências, opções
ou por qualquer outro valor que não seja a própria pessoa.
Mas quer saber?
Hoje me relaciono com todo
mundo, dos brasileiros aos descendentes e filhos de estrangeiros, e sinto mais preconceitos
machistas entre os brasileiros do que com os filhos e netos de estrangeiros,
tipo a idéia errônea de que pra ser homem você tem que ser bruto.
Confesso que depois de algum
tempo antes do meu ‘processo de
amadurecimento mental’ tinha uma pulga atrás das orelhas sobre a minha
masculinidade, no entanto percebi que ‘não sou bicha, ou viado, ou frutinha, ou
um enrustido’, eu percebi que sou “delicado” por uma questão de cultura e
educação.
Para quem não sabe a educação
de ‘berço estrangeira’ é diferente da educação brasileira por questões
culturais, porque na verdade o conceito de ser homem é bem diferente, para
sermos homens, não precisamos coçar saco na rua, cuspir no chão, falar
palavrões ou ficar olhando as ‘bundas’ das mulheres e soltar indelicadezas
verbais como, ‘nossa que delicia de mulher’. (riso)
Paulo RK
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