Por que você desistiu de lutar, e abriu mão da sua vida?

Sempre quando estou indo trabalhar, ou voltando para casa, passo em frente a um bar, onde um homem mal vestido, vive a beber.
Muito provavelmente, faz um tempão que ele não sabe, o que é uma esponja, sabonete, e agua para se lavar.
Algumas vezes, ele começa bem cedo, quando saio atrasado de casa, às 9 horas, ele já está tomando o seu pilequinho.
Não mexe com ninguém, ele simplesmente senta numa banqueta alta, e começa o seu “ritual” de bebedeiras, em frente ao balcão.
Fiquei sabendo que ele ficou assim, logo após a morte de sua esposa, e muito provavelmente, seus filhos o abandonaram.
Longe de mim, querer julgar, seus filhos, pois sei como é difícil lidar com pessoas alcoolatras.
Na verdade, não posso e não quero julgar ninguém, apenas estou escrevendo esta crônica, pois tal situação me incomoda muito.
Ouvi muitas historias sobre ele, dizem que foi um advogado brilhante, e quando jovem, casou se, e teve 3 lindos filhos, e uma esposa maravilhosa a quem dedicou, todo o seu amor e carinho.
E todo o seu drama de vida, começa com a morte dela, todas as vezes que passo em frente ao bar, noto seus olhos observarem o mundo ao redor.
Ele observa o mundo, com um olhar muito distante, dando se a impressão de que não está ali, mas se prestarmos atenção, no brilho dos seus olhos.
Percebemos que algo dentro dele, ainda existe, e apesar do que muitos podem pensar, ele ainda é um ser humano, que tem muitas convicções (eu acredito).
Pois não é fácil desistir da vida, simplesmente, porque as coisas não dão certo para nós, pelo menos é o que penso.
Mas a questão é sempre crucial, quando não encontramos uma resposta coerente, para determinadas situações humanas.
A situação me incomoda, pois só de pensar, que um dia ele foi uma pessoa “normal”, e que de repente se viu, naquela situação.
Pois se aconteceu com ele, pode muito bem acontecer comigo e com você.
Hoje estou “conscientemente” consciente, de tudo que faço, e aparentemente tudo está sobre o meu controle.
Mas a vida, tem seus “relevos” e de repente, a estabilidade pode acabar, e quando isto acontecer, temo perder o controle emocional, e ficar como ele.
É fácil pensar e afirmar; “jamais ficarei nesta situação!”
Mas a realidade, é que ninguém quer ficar, até mesmo ele quando foi um advogado bem sucedido, jamais poderia ter imaginado, que um dia passaria os seus dias, a beber num bar.
Aqui em São Paulo, está cada vez mais frequente, observarmos pessoas, que desistiram de lutar, preferindo viver nas ruas, sem compromissos com as suas próprias vidas, perdendo toda dignidade, e todo amor e respeito próprio.
E a questão que me tortura, é o fato de que ele é um ser humano, como eu e você, e a despeito das nossas condições, de aparente sucesso na vida, podemos ficar como eles.
Paulo RK