Lembro como se fosse ontem,
tinha pouco mais de dezoito anos recém liberado das obrigações militares, e
tinha saído para procurar emprego.
Sai bem cedinho de casa, com
um monte de anúncio de jornais colados num caderno pequeno, e uma pasta de
elástico cheia de currículos impressos numa Lan House, pois na época nem tinha
internet em casa, apesar de ter um computador bem velhinho e sem impressora.
Andei como um condenado das 8
da manhã até às 15 horas e nem tinha almoçado, só tinha comido dois cachorros quentes
e um suco artificial de gosto duvidoso, pra variar horrível, os sucos
artificiais que costumo fazer em casa era bem melhores do que aquela agua suja,
mas como dizem, na fome e na sede quaisquer “iguarias” que comemos na rua se
torna num banquete!
Enfim eram pouco mais que 15
horas e resolvi entrar numa igreja para descansar e “falar” comigo mesmo, o que
não sabia é que tinha um pessoal realizando uma cerimônia de sétimo dia, acho
que era isso, então assim que entrei me vi num lugar triste, cheio de pessoas chorando.
Só que naquela época nem
sabia o que era aquilo, e fiquei desesperado, tão pouco sabia que a cerimônia
não era para qualquer pessoa participar, pessoas sem nenhum grau de parentesco
ou amizade com o falecido.
Imagine que eu entrei com
aquela cara de cansado só para descansar as pernas e ter um pouco de paz comigo
mesmo, quando todo mundo olharam em minha direção, com aquela expressão de
curiosidade e espanto, quem será essa pessoa desesperada?
Ao mesmo tempo em que me
fazia à pergunta; por que tanta gente reunida, todas tristes a chorar, olhando
na direção de um homem com expressão sofrida, crucificado e com uma coroa de
espinhos e com suas mãos e pés pregados com prego na cruz?
E mais curioso fiquei quando
todos que estavam no local, mirava seus olhares a chorar no homem da cruz no
mesmo tempo que olhavam em minha direção
com ar de espanto e curiosidade.
Foi um choque para mim
naquela época, que nem sabia direito o que era religião, que tipo de cerimônia
era aquela e se quer sabia quem foi Jesus cristo e como e porque, ele tinha
sido crucificado!
Só sei que fiquei tão sem
graça, que olhei para o crucifixo, fiquei triste e saí correndo, todos naquela
igreja devem ter estranhado o meu comportamento, pois percebi um senhor correndo
em minha direção.
Mal sabendo eles que eu
fiquei aterrorizado com todo aquele sofrimento, tanta gente chorando por conta
da visão de um homem crucificado numa cruz!
Obviamente que hoje depois de
adulto dou boas gargalhadas com toda a minha ignorância de quando mais novos,
porque somos ignorantes de pedra e nos assustamos com tudo que vemos no mundo,
por não termos os devidos conhecimentos.
Nem sei se depois deste
ocorrido e de forma inconsciente eu tenha receio de ver a imagem de cristo ou
passe mal diante dele, pois conforme ele mesmo e o Buda e entre muitos outros seres
de luz, que vieram nos ensinar uma grande lição mencionaram; ‘ninguém veio ao
mundo para sofrer’!
Passado se uns tempos do “choque”,
eu pesquisei sobre Jesus Cristo ainda na minha juventude e a sua forma hedionda
de como foi morto, confesso ter me causado repulsas com a minha própria espécie.
Hoje não sinto mais mal em
ver a cruz, pois sei que aquela imagem representa a ignorância da própria
humanidade, mas não Jesus Cristo, e ainda tem gente em pleno século XXI que diz
que ele morreu pelos nossos pecados e continuam a praticar coisas erradas com o
seu próximo, como se a morte de “alguém” pudesse nos livrar das nossas próprias
maldades e ignorâncias interiores.
Eu me tornei budista, pratico
o budismo pela coerência dos ensinamentos do Buda, que diz que somos todos responsáveis
pelas nossas atitudes e pagamos por eles, ninguém pode pagar pelos nossos próprios
erros cometidos, e segundo o budismo, não existe pecados, apenas erros com as
quais aprendemos com eles, nos tornando
em pessoas melhores neste mundo!
Um adendo, nada no budismo é
considerado pecado, consideramos todas as experiências boas ou ruins como um grande
aprendizado, mas de todas as coisas erradas que o budismo abomina é sem dúvida,
tirar a vida de alguém ou qualquer outro ser vivo que não da nossa mesma espécie.
Tirar a vida de outro ser na
concepção budista é considerado um pecado e o pior deles, segundo o meu
entendimento, quanto todo ao resto, uma grande lição para aprimorarmos as
nossas condições nesta vida.
E a propósito, prefiro ver a
imagem do Buda na postura meditativa de
flor de lótus pois ela nos lembra o estado que temos que atingir neste mundo, o
estado de paz de espírito para contemplar o mundo e o universo ao nosso redor
do que ver a nossa mesma imagem a sofrer numa cruz!
Paulo RK
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