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Não to nem ai para que você fala!
Será que existe no mundo alguém tão autoconfiante em si mesmo ao ponto de afirmar tal coisa?
Sabe que eu admiro pessoas que agem de forma autônoma, daqueles que não dependem de ninguém para fazer as coisas?
Pessoas que tem iniciativa, e a despeito do que as pessoas possam falar ou comentar sobre a sua condição, elas simplesmente acontecem!
Corajosas ao extremos, pessoas de atitude sempre estão a um passo a nossa frente.
Mas a questão é, de onde vem tanta autoconfiança?
Quando comecei a trabalhar, era muito inexperientes em muitos aspectos, e principalmente no que se refere ao relacionamento humano.
E quando tinha que falar com o chefe, olhando nos seus olhos, ou simplesmente falar com algum colega de trabalho,sentia todo tipo de sintomas, desde suor nas mãos, até tremedeira generalizada.
Lembro de uma situação muito engraçada, quero dizer, hoje acho simplesmente hilário, mas naquela época, foi um drama pessoal que não desejaria para ninguém.
Numa empresa, a qual tive a grande oportunidade de trabalhar como escriturário, não forneciam vales refeições com o qual, poderíamos almoçar em algum restaurante de nossa própria escolha.
Em pleno século XXI, eles recomendavam aos seus colaboradores, que levassem marmita,e os requentassem na cozinha ao lado, pois lá tinha um fogão com duas bocas, e uma bandeja onde poderíamos “desfrutar de toda regalia da empresa,” estou reproduzindo as palavras do próprio diretor.
Comentários aparte, voltemos ao meu drama pessoal da timidez exagerada, naquela época, a minha mãe caprichava na minha marmita.
Colocava todas as variantes da culinária oriental, incluindo as conservas, ‘as conservas’, eram o meu maior sofrimento, o meu algoz e delator.
Eu tinha sabiamente “armado” um esquema, para escapar de ter que almoçar com todo o pessoal do escritório(devido a timidez).
Escolhia o último horário, e ficava enrolando para que todos que tivessem optado pelo mesmo horário, acabassem primeiro e liberassem a área para o “bicho do mato”comer.
Alegava que precisava adiantar o trabalho, e que não estava com muita fome.
O “esquema”, funcionou por um bom tempo, até que num belo dia, estava eu sozinho no refeitório, como tinha pedido aos deuses, só eu, a minha marmita, e o meu estomago implorando por algo.
Faminto, fui abrir aquela que supostamente mataria aquele que estava me matando aos poucos, ou seja a minha própria fome.
Quando abri a dita cuja , percebi que a minha mãe tinha caprichado, colocou além dos cozidos com legumes e carnes, conservas de “RaBaNeTeS”!
Foi o começo do fim, toda a diretoria que trabalhava no segundo andar, e todos os colegas do trabalho, foram checar se havia algum cano do esgoto vazando, que por coinscidência passava pela cozinha improvisada.
Imaginem como foi traumatizante para um rapaz, extremamente tímido, ser flagrado comendo uma marmita que cheirava simultaneamente ovo podre e peido azedo,uma desgraça!
Ficaram totalmente paralisados e aterrorizados com tamanho fedor, todos olhando para mim como se eu fosse um terrorista lançando gás sarim, engolindo inocentemente a comida que descia naquele instante, goela abaixo como se fossem cacos de vidros(pois havia me tornado o epicentro).
Pois naquele momento fatídico, todos focalizavam a minha “pobre” e supostamente “podre” marmita, e faziam comentários engraçados, só para não me deixar sem graça.
Apesar de ser tímido, percebi que incomodei muita gente, da moça encarregada da higiene local, aos colegas escriturários e o pior, a própria diretoria.
Nem preciso falar que fui o assunto principal da empresa, durante duas semanas, entre comentários sem graças e piadinhas, fiquei com receio para levar marmita por um bom tempo, mas acabei superando.
O bom de toda esta explosão de vexame, foi que consegui superar a minha timidez, pelo menos de comer marmita naquela empresa.
O tempo foi passando e encontrei um emprego melhor, onde recebia vale refeição, e entre outros benefícios.
Nesta nova empresa, conheci uma pessoa muito especial, ela me deu muita coragem para enfrentar os meus próprios medos.
Ela não era bonita, mas muito simpática, estava um pouco acima do seu peso, e não ligava para as opiniões e comentários alheio.
Mas o que mais me impressionava nela, era a sua auto confiança, não ligava nunca para que os colegas de trabalhos falava sobre as suas roupas, cabelos ou sapatos.
Ela simplesmente era ela, com o seu jeito supremo, “não arrogante,” sabe aquele jeito, ‘eu sou mais eu’ e ‘eu me garanto!’
Certa vez comentei a ela que admirava o seu jeito, e perguntei como ela conseguia ser tão certa de si, mesmo as pessoas fazendo chacotas do seu jeito de vestir entre outros aspectos.
Ao perceber que eu era tímido ela respondeu:
“- Sabe Paulo, sinto que você é uma pessoa muito tímida, e vejo que você se importa muito com o que as pessoas pensam ou falam ao teu respeito.
Aprendi na vida, que quando damos muito valor aos pensamentos maldosos das outras, acabamos morrendo por dentro.
Devemos ignorar este tipo de hostilidades, pois são pessoas incompletas e infelizes, que vivem em função dos problemas alheios, por incapacidade de resolver as suas próprias questões.
E continuou:
- Sabe o que te faz ser uma pessoa perfeita?
Não é o teu aspecto físico ou a sua condição financeira, ser perfeito é fazer nesta vida o que realmente gostamos, isso é liberdade, isto é uma vida autônoma.
Eu amo o meu trabalho, e nas horas que tenho tempo, pratico natação, pois eu me amo, ela encerrou o diálogo me aconselhando a praticar natação.”
O tempo foi passando e com ela ficou todo o aprendizado, nunca me esquecerei da minha primeira experiência com rabanetes e o diálogo que tive com a moça gorda, hoje muito amiga (quase como uma irmã).
E a medida que crescemos fisicamente, desenvolvemos as nossas personalidades, não sou mais aquele rapaz tímido, que tinha vergonha até da própria sombra.
Certas experiências me mostraram que para acabar com as nossas timidez, é necessário ter um convívio social intenso com pessoas e culturas diferenciadas, o isolamento só tem a agravar esta condição.
Na convivência com outras pessoas, ou num simples diálogo podemos ter mais a consciência daquilo que somos, ou daquilo que somos capazes de proporcionar ao mundo.
Resolvi escrever esta crônica, pois recentemente notei muitas pessoas insatisfeitas com as suas próprias condições, criticando, analisando e depreciando as pessoas ao redor,e não percebendo ao mesmo tempo, que são pessoas solitárias por opção!
“Criticando o mundo por falta de coragem para resolver os seus próprios medos e questões da vida!”
Acho que nunca vou esquecer esta frase.
Muito obrigado por terem lido até o ultimo parágrafo.
Paulo RkSp