Na segunda feira, encerrei os
meus afazeres bem antes do habitual, porque não estava me sentindo bem,
fisicamente e espiritualmente.
Acredito que estava
fisicamente indisposto, pois acredito ter ficado com gripe, ainda que
camuflada, uma gripe muita enrustida e safada que me deixou com uma puta falta
de disposição para fazer qualquer coisa.
E espiritualmente como
consequência do corpo físico enfermo, pois existe uma ligação profunda entre
essas duas realidades e não se pode estar bem quando quaisquer desses mundos,
não estiverem em bom funcionamento.
Para o corpo, tomei alguns
antigripais, bastante suco de laranja e me poupei de fazer algumas
extravagancias físicas, e para o meu espírito procurei uma pessoa, que
literalmente é capaz de levantar o astral de qualquer pessoa desmotivada, pelo
menos é o que acreditava naquela fatídica segunda feira.
No entanto tive uma pequena surpresa
desagradável e acredito que o mundo deve estar em seus dias terminais, porque a
tal da moça, a tal da garota que vive de bom humor, estava chateada e de muito
mal humor.
Obviamente que estou falando
de uma pessoa rara nos tempos considerados contemporâneos, pois acredite ou
não, pela primeira vez em toda a minha vida, eu pude ver um rostinho pálido
completamente desfigurado pela chateação mundana.
Foi uma “surpresa”
desagradável, e antes não tivesse a procurado, pois se estava ruim comigo
mesmo, fiquei pior, pois não gostamos de ver pessoas que amamos nos seus piores
dias.
Então ao perceber o seu
estado emocional declinado, assumi a minha melhor condição de psicólogo de
boteco e comecei a “terapia” para ajudar aquela que sempre me ajudou nos piores
momentos da minha vida.
Ela desabafou expondo a sua
maldição de vida, dizendo que ninguém consegue compreender o que ela fala, e consequentemente
as pessoas pela falta de compreensão não atendem as suas necessidades.
Diz ela que sempre foi assim
e teria que se conformar, acreditando mesmo que tal condição seja uma sina, e
que provavelmente levará muito além do seu túmulo.
Essa moça rara, de alegria
incontida estava chateada com a instalação de um balcão de atendimento fora do
seu padrão de altura, ela é cambista, e o seu antigo patrão deixou de fazer
jogo de bicho, fazendo qualquer outra coisa que nem mesmo ela soube me falar,
enfim, entregando o seu destino à própria sorte.
A frustração dela é que ela
mencionou ao instalador as medidas da altura do balcão conforme as suas
próprias condições físicas, mas ele fez completamente oposto do que ela
solicitou, ficando muito mais alto do que o necessário.
Uma segunda solicitação
também não foi atendida, mesmo ela tendo comunicado ao profissional, foi quando
chegou à conclusão e o motivo de sua real tristeza, de que ninguém nesse mundo
consegue compreender o que ela diz.
Achei tudo muito uma grande
bobagem, mas como dizem, problemas alheios parecem insignificantes e de pouca
gravidade aos nossos olhos e concepção.
O meu serviço implica
diretamente ou indiretamente em resolver as questões conflitantes do mundo
moderno, sejam elas quais fosse ou para quem fosse então não poderia de
desempenhar o meu papel mesmo estando fisicamente debilitado, afinal de contas
ela é a minha amiga.
E o seu segundo “problema”
que teria causado mais danos ao seu emocional, foi porque ela pediu ao
profissional que desfizesse de uma mesa antiga que estava ocupando um espaço
desnecessário, e ele não fez.
Fiquei sabendo por todos os
seus clientes e amigos locais, que ela travou a maior guerra tentando quebrar a
tal da mesa velha, fazendo um barulho enorme e que mesmo assim não obteve
êxito.
Meu deus!
Pensei comigo mesmo, mulheres
não foram feitas para trabalhos físicos pesados e isso também não era motivo
dela estar tão cabisbaixa ou de mau humor, afinal de contas, o mundo (eu),
precisava se divertir com as suas palhaçadas e irreverências de sempre! (risos)
Propus detonar aquela mesa
velha, a principio ela relutou muito, dizendo que entregou o martelo para o
rapaz que não estava mais lá, enfim eu mencionei que não precisava de
ferramenta algum, e poderia fazer no ‘coice’ da mesma forma como faria um
“jumento” raivoso. (risos)
Quando comecei a chutar a
‘bagaça’ um comerciante vizinho e amigo da moça me perguntou se eu estava
precisando de ferramentas, e apesar de ter detonado boa parte da velharia,
tinha algumas partes parafusadas e eu realmente precisaria de uma chave de
fenda.
Dramas da moça a parte
finalizei a destruição, e foi muito gratificante, pois o seu semblante voltou
ao normal, começando a rir como se não houvesse o amanhã , como eu próprio
gostaria de ter visto e ouvido naquela segunda feira.
Tal experiência me fez lembrar a celebre frase
de Gandhi; ‘seja você a diferença que quer ver no mundo’!
Às vezes temos que interferir
na vida das pessoas que estão tristes, de repente o problema delas pode não
representar ameaça algum para nós, porque resolvendo os problemas das outras
pessoas, muitas vezes resolvemos as nossas próprias, e é o que o Buda menciona
em muitas das suas explanações; “quando iluminamos o caminho das outras
pessoas, iluminamos as nossas”!
Paulo RK
Hoje estou mais triste q sua amiga, e numa coisa você tem razão: às vezes há tristezas mais tristes que a nossa e temos q fazer alguma coisa pra mudar isso. Mas essa dor no peito hoje me derrubou...
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